domingo, 9 de setembro de 2012

DIA 26 - QUARTO DIA NO XINGU - Ultimo dia Kuarup

As 4h pararam de chorar e os homens foram se arrumar para a luta.

"Huka-huka é uma arte marcial e um estilo de luta tradicional brasileiro dos povos indígenas do Xingu e dos índios Bakairi, todos do estado de Mato Grosso.O huka-huka inicia com os atletas ajoelhados. Começa quando o dono da luta, um homem chefe, caminha até o centro da arena de luta e chama os adversários pelo nome. Os lutadores se ajoelham girando em circulo horário frente ao oponente, até se entreolharem e se agarrarem, tentando levantar o adversário e derrubá-lo ao chão.
Como luta ritual, o huka-huka é praticado durante o Quarup e possui simbolismo competitivo, onde a força e virilidade dos jovens é testada.[2] A arte marcial está inserida num amplo contexto de competições realizadas em virtude do Quarup.
Aos primeiros raios do sol do dia seguinte ao início do Quarup, termina o momento de ressurreição simbólica e o choro e o canto cessam. Os visitantes anunciam sua chegada com gritos, e iniciam competições de huka-huka entre os campeões de cada tribo, seguidas de lutas grupais para os jovens.O huka-huka vem sendo introduzido, em caráter experimental, na formação de policiais militares do estado de São Paulo, no Brasil.[3][4][5] A luta também vem sendo estudada por lutadores de artes marciais mistas, de maneira a aplicá-la em combates profissionais" Wikipédia

Teve uma apresentação muito bonita agora em circulo, de cada aldeia.

Tentei entender o ritual da luta, fica no meio a equipe da aldeia com o parceiro ( kalapalo) e os adversários mais a distancia em equipes formando um circulo na aldeia. Em seguida a equipe da aldeia escolhe quem vai lutar e um a um vai saindo do grupo e agachando no meio. Apos toda escolha a equipe adversária manda quem vai lutar com cada um dos escolhidos. Sai todo mundo e vai cada hora uma dupla no meio lutar e os sons ainda não entendi a equipe que manda faz um som e quando acaba a equipe adversaria faz outro... mas ninguém soube me explicar detalhado. Se alguem aqui souber me informar..obrigada. Quando acaba a luta de toadas as duplas fazem uma grande roda e todos podem lutar e eles saem na roda entre todos lutando e escolhem o adversário para luta e a poeira levanta de forma impressionante.

Depois da luta reclusas da aldeia saíram apoiadas ao ombro dos homens, franjas tampando o rosto e foram entregar a cada cacique castanhas de pequi, que são feitas apenas uma vez ao ano e estas castanhas as mulheres guardam e fazem um peixe com castanha que sera levado ao centro da aldeia para todos comerem juntos com beiju.

As faixas colocadas nos troncos foram destribuidas entre os homens da aldeia pois seram usadas em futuras lutas e eventos amarradas na cintura.

A aldeia esvaziou do nada, muito rápido mesmo e me senti em outro lugar, que incrível a organização indígena. Na nossa casa sempre ficam uns para um café a mais...rsrs Vi este processo no rio enquanto atravessavam tomei meu banho mais distante da saída da aldeia enquanto olhava uma quantidade de gente atravessando o rio nos 4 barcos disponíveis.

Depois de toda festa todos tomaram muito refrigerante pois foram a cidade varias vezes neste processo levando alimentos, buscando convidados... ate Samira, bebe vi tomando .... quando derrepente.... derrepente chega uma visita , um parente da cidade na aldeia e eu fiquei observando a camisa dele tentando ver se eu estava imaginando coisas.. não estava! O índio estava usando uma camisa da TAMBASA e eu me senti em casa no XINGU. Deus ate saudades  das fotos de estrada que os motoristas me davam quando eu trabalhei la. Marcos Araujo o indígena. Ulupucuman

Hoje ainda churrasco na aldeia! O mercado da cidade com um candidato a vereador estava dando um churrasco para a aldeia. Me chamaram e fui ajudar a pegar as coisas no barco. Me senti da terra. Fui com o barco para o outro lado, as visitantes e o pessoal do churrasco ( umas 6 pessoas ) entraram no barco e eu e os índios puxamos o barco nadando no rio ate o outro lado da margem e as visitantes estavam tirando é foto minha puxando o barco...morri de rir da situação. De volta a Oca fiquei na rede curtindo sombra e ar fresco enquanto o vereador , mercado e visitas estavam fazendo litros e mais litros de suco para a aldeias em enormes panelas que acabavam em minutos.

Enormes panelas estavam no fogo com arroz, era um mexido de arroz com carne ralada. Todos esperavam ansiosos quando vi a panela virando, nesta hora ate eu senti um calafrio..Meu Deus a comida virou! Mas derramou pouco.  Foi levado também cervejas e refrigerante. O almoço foi suco ( um pacote que fazia 10 litros faziam 30 e acabava muito rápido), arroz com carne ralada dentro do pão. Após o almoço o vereador foi dar balas de oca em oca com santinhos para todos e foi uma festa e eu fiquei observando o movimento.

Nesta visita fui acompanhando de longe e pude ver como as ocas estão bem mais vazias, os parentes foram embora, visitantes... Brancos eramos poucos. Eu, Julie, dois paulista, mãe e filho e em outra oca tinha uns 5 estrangeiros. As ocas estavam enormes, muito espaço o centro ficam panelas e bebidas, das extremidades as redes.

Engraçado como o ser humano se adapta a tudo, o dia que cheguei a escuridão, eu não tinha ideia de onde estava e se eu saia a noite da oca eu literalmente me perdia no centro da aldeia e tinha que dar a volta até reconhecer a minha oca, eu não tinha ideia da direção do rio. Me peguei andando sozinha no centro da aldeia ( sem feiticeiros que dizem rodar a noite com olhos de farol de moto, asas de morcego e flechas transparentes que matam em 3 dias). Mas ainda não sei quantas pessoas em média dormiam em minha oca. É escuro e são muitas redes nas extremidades que eu não consegui saber quantas pessoas moravam ali.

Próximo a aldeia esta pegando fogo e parece bem próximo, mas estão todos bem tranquilos, dizem estarem queimando roça e fiquei tranquila.

Depois de andar na mata próxima e ver boa parte da mata queimada fui ver Julie no rio e ganhei uma massagem que ela é top! ( estava com dor de cabeça)Neste momento o candidato e visitas estavam indo embora.

Na volta do rio fui ver o macaquinho que agora é meu amigo e fica tentando tirar meu anel e de longe vi os homens no centro em reunião na Casa dos Homens ( apenas homens podem ir a este centro e mulheres apenas quando não tem ninguém la).. e como sou mulher passo de longe. Estavam todos os homens da aldeia e visitantes la e na volta tiveram assunto para ate tarde da madrugada. ( futuro da aldeia, turismo, renda, cultivos...). E ficamos de papo com o neto do cacique, futuro cacique da aldeia.


Machuquei meu pé






Tronco do Kuarup



Nicolli, menina linda que saiu da reclusão quando estavamos la. Da nossa Oca


Obs: camisa TAMBASA

Churrasco



Ame

Este domingo era um silencio ensurdecedor, todos cansados da festa, comeram muito no churrasco e cedo ja estava todos dormindo. Como escutei periquitos e ratos esta noite.

Um comentário:

  1. Estou muito feliz ao ver tantos jovens visitando os indios. Esta aproximação favorece os dois lados. Para os indios as trocas de experiencias e o apoio para continuarem a preservar sua cultura.
    Para os jovens, um retorno a Natureza e aos principios de preservação de nosso meio ambiente.
    Parabéns pelo Blog!!!

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