segunda-feira, 24 de setembro de 2012

UM PASSEIO A UMA PRAINHA PROXIMA A ALDEIA

Este passeio foi incrível e resolvi posta-lo em especial como uma pequena homenagem a crianças, que não falam minha lingua, e me guiaram ate uma prainha que eu queria conhecer próxima a aldeia.

Atitudes naturais que me deixam agora na vontade de voltar e agarrar estas carinhas fofas!!! Este dia uma criança que falava português disse que conseguia nos levar a uma prainha que não conhecíamos a trilha.

Isto ela de dentro do barco com seus parentes ( menores que ela) e ela e mais dois entraram na mata e confesso que tinha parte que eu quase deitava no chão.

Saímos em uma parte do rio, próxima, não era a prainha, mas adivinhem??? Um dos meninos que estavam no barco estava ali paradinho com o barco nos esperando para a ultima parte do passeio.... morri de rir pois fizeram a verdadeira CVC, levaram para andar no mato, criaram emoção e dificuldade depois colocaram o barco ( que poderia ter sido o transporte ) e nos deixaram em um lugar maravilho perfeito lindo e incrivel... mas sem os "10 minutos" da CVC.

Estes meninos já podem investir no Etno Turismo, e to falando serio.

Voltamos de barco, sem mato e foi incrível o passeio. Na praia enquanto ficamos nadando e papeando, lavaram o barco ( isto mesmo, lavaram o barco) e depois brincaram de fazer castelinhos na areia, como toda criança. AMEI !

Brincadeiras na areia

Fui guiada por estes pequenos de forma inesquecível !!!!!




Vídeo

segunda-feira, 17 de setembro de 2012

CONCURSO INTERNACIONAL DE FOTOGRAFIA INDÍGENA. PRISCILA BARTOLOMEU SELECIONADA PARA EXPOSIÇÃO DE 23 A 30 DE SETEMBRO NA COLOMBIA.


XI FESTIVAL LOSPUEBLOS INDÍGENAS CONSTRUIMOS Y PROYECTAMOS NUESTRA IMAGEN “por la vida, imágenes de resistencia” imágenes, identidades y lucha de los pueblos indígenas.

Muito feliz por ter sido selecionada por este concurso de fotografia indígena!!! Agora vamos torce para dia 30 de Setembro ganhar a final. Muito feliz!!!

Cinemateca Distrital durante el XI Festival Internacional de Cine y video Indígena del 23 al 30 de septiembre de 2012.

 









domingo, 9 de setembro de 2012

DIA 26 - QUARTO DIA NO XINGU - Ultimo dia Kuarup

As 4h pararam de chorar e os homens foram se arrumar para a luta.

"Huka-huka é uma arte marcial e um estilo de luta tradicional brasileiro dos povos indígenas do Xingu e dos índios Bakairi, todos do estado de Mato Grosso.O huka-huka inicia com os atletas ajoelhados. Começa quando o dono da luta, um homem chefe, caminha até o centro da arena de luta e chama os adversários pelo nome. Os lutadores se ajoelham girando em circulo horário frente ao oponente, até se entreolharem e se agarrarem, tentando levantar o adversário e derrubá-lo ao chão.
Como luta ritual, o huka-huka é praticado durante o Quarup e possui simbolismo competitivo, onde a força e virilidade dos jovens é testada.[2] A arte marcial está inserida num amplo contexto de competições realizadas em virtude do Quarup.
Aos primeiros raios do sol do dia seguinte ao início do Quarup, termina o momento de ressurreição simbólica e o choro e o canto cessam. Os visitantes anunciam sua chegada com gritos, e iniciam competições de huka-huka entre os campeões de cada tribo, seguidas de lutas grupais para os jovens.O huka-huka vem sendo introduzido, em caráter experimental, na formação de policiais militares do estado de São Paulo, no Brasil.[3][4][5] A luta também vem sendo estudada por lutadores de artes marciais mistas, de maneira a aplicá-la em combates profissionais" Wikipédia

Teve uma apresentação muito bonita agora em circulo, de cada aldeia.

Tentei entender o ritual da luta, fica no meio a equipe da aldeia com o parceiro ( kalapalo) e os adversários mais a distancia em equipes formando um circulo na aldeia. Em seguida a equipe da aldeia escolhe quem vai lutar e um a um vai saindo do grupo e agachando no meio. Apos toda escolha a equipe adversária manda quem vai lutar com cada um dos escolhidos. Sai todo mundo e vai cada hora uma dupla no meio lutar e os sons ainda não entendi a equipe que manda faz um som e quando acaba a equipe adversaria faz outro... mas ninguém soube me explicar detalhado. Se alguem aqui souber me informar..obrigada. Quando acaba a luta de toadas as duplas fazem uma grande roda e todos podem lutar e eles saem na roda entre todos lutando e escolhem o adversário para luta e a poeira levanta de forma impressionante.

Depois da luta reclusas da aldeia saíram apoiadas ao ombro dos homens, franjas tampando o rosto e foram entregar a cada cacique castanhas de pequi, que são feitas apenas uma vez ao ano e estas castanhas as mulheres guardam e fazem um peixe com castanha que sera levado ao centro da aldeia para todos comerem juntos com beiju.

As faixas colocadas nos troncos foram destribuidas entre os homens da aldeia pois seram usadas em futuras lutas e eventos amarradas na cintura.

A aldeia esvaziou do nada, muito rápido mesmo e me senti em outro lugar, que incrível a organização indígena. Na nossa casa sempre ficam uns para um café a mais...rsrs Vi este processo no rio enquanto atravessavam tomei meu banho mais distante da saída da aldeia enquanto olhava uma quantidade de gente atravessando o rio nos 4 barcos disponíveis.

Depois de toda festa todos tomaram muito refrigerante pois foram a cidade varias vezes neste processo levando alimentos, buscando convidados... ate Samira, bebe vi tomando .... quando derrepente.... derrepente chega uma visita , um parente da cidade na aldeia e eu fiquei observando a camisa dele tentando ver se eu estava imaginando coisas.. não estava! O índio estava usando uma camisa da TAMBASA e eu me senti em casa no XINGU. Deus ate saudades  das fotos de estrada que os motoristas me davam quando eu trabalhei la. Marcos Araujo o indígena. Ulupucuman

Hoje ainda churrasco na aldeia! O mercado da cidade com um candidato a vereador estava dando um churrasco para a aldeia. Me chamaram e fui ajudar a pegar as coisas no barco. Me senti da terra. Fui com o barco para o outro lado, as visitantes e o pessoal do churrasco ( umas 6 pessoas ) entraram no barco e eu e os índios puxamos o barco nadando no rio ate o outro lado da margem e as visitantes estavam tirando é foto minha puxando o barco...morri de rir da situação. De volta a Oca fiquei na rede curtindo sombra e ar fresco enquanto o vereador , mercado e visitas estavam fazendo litros e mais litros de suco para a aldeias em enormes panelas que acabavam em minutos.

Enormes panelas estavam no fogo com arroz, era um mexido de arroz com carne ralada. Todos esperavam ansiosos quando vi a panela virando, nesta hora ate eu senti um calafrio..Meu Deus a comida virou! Mas derramou pouco.  Foi levado também cervejas e refrigerante. O almoço foi suco ( um pacote que fazia 10 litros faziam 30 e acabava muito rápido), arroz com carne ralada dentro do pão. Após o almoço o vereador foi dar balas de oca em oca com santinhos para todos e foi uma festa e eu fiquei observando o movimento.

Nesta visita fui acompanhando de longe e pude ver como as ocas estão bem mais vazias, os parentes foram embora, visitantes... Brancos eramos poucos. Eu, Julie, dois paulista, mãe e filho e em outra oca tinha uns 5 estrangeiros. As ocas estavam enormes, muito espaço o centro ficam panelas e bebidas, das extremidades as redes.

Engraçado como o ser humano se adapta a tudo, o dia que cheguei a escuridão, eu não tinha ideia de onde estava e se eu saia a noite da oca eu literalmente me perdia no centro da aldeia e tinha que dar a volta até reconhecer a minha oca, eu não tinha ideia da direção do rio. Me peguei andando sozinha no centro da aldeia ( sem feiticeiros que dizem rodar a noite com olhos de farol de moto, asas de morcego e flechas transparentes que matam em 3 dias). Mas ainda não sei quantas pessoas em média dormiam em minha oca. É escuro e são muitas redes nas extremidades que eu não consegui saber quantas pessoas moravam ali.

Próximo a aldeia esta pegando fogo e parece bem próximo, mas estão todos bem tranquilos, dizem estarem queimando roça e fiquei tranquila.

Depois de andar na mata próxima e ver boa parte da mata queimada fui ver Julie no rio e ganhei uma massagem que ela é top! ( estava com dor de cabeça)Neste momento o candidato e visitas estavam indo embora.

Na volta do rio fui ver o macaquinho que agora é meu amigo e fica tentando tirar meu anel e de longe vi os homens no centro em reunião na Casa dos Homens ( apenas homens podem ir a este centro e mulheres apenas quando não tem ninguém la).. e como sou mulher passo de longe. Estavam todos os homens da aldeia e visitantes la e na volta tiveram assunto para ate tarde da madrugada. ( futuro da aldeia, turismo, renda, cultivos...). E ficamos de papo com o neto do cacique, futuro cacique da aldeia.


Machuquei meu pé






Tronco do Kuarup



Nicolli, menina linda que saiu da reclusão quando estavamos la. Da nossa Oca


Obs: camisa TAMBASA

Churrasco



Ame

Este domingo era um silencio ensurdecedor, todos cansados da festa, comeram muito no churrasco e cedo ja estava todos dormindo. Como escutei periquitos e ratos esta noite.

sábado, 8 de setembro de 2012

VÍDEOS QUE ME FIZERAM IR CONHECER O XINGU

Hoje parei para observar as perguntas que recebi e vi que orientei muito mal ao pessoal que segui o blog. Então estou postando para orienta-los sobre minha ultima visita:O que é o Kuarup no Xingú e o ritual de passagem para a vida adulta.  Os dois vídeos que já vi milhares de vezes no youtube e me motivaram a conhecer o Xingu. Logo postarei novas emoções de meu diário. Beijos para todos

Kuarup

Ritual de passagem para vida adulta

Espero que gostem pois eu ameeeeei e me fez fazer uma longa viagem até o Xingú!

sexta-feira, 7 de setembro de 2012

DIA 25 - TERCEIRO DIA NO XINGU

Acordei com um "Auchupai"( não sei como se escreve) na barraca e um "Faz Café Julie" ( ela fez ontem e adoraram e eu não toco alimentos pq estou menstruanda). MInha barraca esta uma bagunça e não vejo nada sem lanterna...
Me chamaram para ir ao centro ( em Gaucha no Norte) passear e aproveitei e fui  comprar coisinhas para mim e agua. Agora de dia pude ver  a estrada para o centro e com muita sede( pois a agua acabou na aldeia) parecia que a estrada se multiplicava.
Eu fiquei indignada em como todos na aldeias estão viciados em coca cola, todo mundo que vai ao centro ( que não é perto) tem que ter 4 litros de coca cola para a nossa oca. INCRÍVEL.
Eu estava com tanta sede que foi conversando com Ontxa no carro e pensando em uma coca gelada, acho que qualquer coisa gelada mas a coca estava me torturando.
Quando chegamos no mercado pedi um litro de Fanta e na falta de copo ele deve ter assustado porque bebi no bico... acho que ele assustou sim!
Esqueci de falar que o pneu estava com problema e nos tivemos que procurar borracharia e enquanto isto almoçamos na cidade quando tive a infeliz ideia de ligar a cobrar para minha mãe de um orelhão publico e dei para ele falar... minha mãe levou um susto mas depois ficou tranquila. ( estou incomunicavel e um homem liga falando que esta comigo??? rsrsr )
De volta a aldeia cheguei na hora de esperar o sol ficar mais fraco nas redes das ocas e fiquei observando uma criança imitando os flautistas, mas era perfeito... e de tempo em tempo entravam os flautistas e ele ficava observando. Já era comum a entrada deles e eu me pegava as vezes nem percebendo que já estavam ali novamente. Incrível.
Ontxa disse para eu sair com os flautistas que vão pensar que sou um reclusa...( me chamou de branquela, pois as reclusas ficam clarinhas por não saírem no sol).
Todos foram dançar e eu andando de costas assustada com o sol se pondo atrás das ocas e uma fileira enorme dos indígenas do Xingu dançando,o som parecia que dava eco... e ao mesmo tempo eu queria ver a recepção das aldeias visitantes que iam montar acampamento do lado de fora da aldeia.
Ficavam as lideranças da aldeia de um lado e chegava povo a povo vindo do rio com suas bagagens e tudo mais para o acampamento e o cacique da aldeia vai ate o cacique da outra aldeia o levava a uma cadeira, dava peixe, Beiju e utxitxuwi( kawin pataxó..heheh ) , agachavam diante do cacique visitante e davam boas vindas.
Montavam muito rápido as redes e em minutos já estavam todos sentados nas redes e conversando. Conheci Aritana, o cacique geral do Xingu.
Eles não entram na aldeia, apenas a noite para o desfile e no dia seguinte para a luta.
Rodei os acampamentos e recebi um recado que tinham alguns rapazes me procurando e não entendi nada, conheci alguns Kuikuros pelo facebook e eles sabiam que eu estava la e foram me conhecer, muito bacana. Quando ia imaginar que ia conhecer amigos do facebook no xingu?
Depois de meu banho no rio fiquei vendo todo ritual da montagem da madeira, do choro , da musica que nunca para e por mais que eu tentasse não conseguia entender cada detalhe desta magnífica cultura.
E a noite cada aldeia entrou para buscar o fogo para seu acampamento e um rapaz da aldeia me disse que nesta hora fazem muito barulho para assustar pois no dia seguinte seria a luta entre eles.
Um grupo veio falar comigo enquanto eu assistia a aldeia visitante correndo em circulo e gritando muito. Assunto: Julie tinha que ficar afastada de Teo ( que conhecemos la ) pois esta noite era muito importante e proibida a aproximação homem e mulher. Julie foi meditar mais cedo e eu fiquei nas redes com o pessoal e saia toda hora para ver o choro do lado de fora que só acabou as 4h, quando todos foram se preparar para a luta. Os guerreiros se raspam e se arrumam em outro clima e não mais de choro,
Apenas quem esta de luto senta e o restante fica em pé ate quando aguenta e vai dormir.Sentei do lado da oca sozinha e fiquei observando o choro e canto dos cantores de cada aldeia. O choro é organizado. Quando os cantores cantam é um silencia absoluto e quando param choram todos juntos e eu fiquei observando ate tarde. Estes cantores são famosos por não desafinarem e naquele silencio acho que qualquer erro tooodos escutam..
Serviram biscoito com café e não entendi, depois soube que foi em homenagem ao rei, comida de branco. Uma coisa que não entendi é que as mulheres não ficaram muito ali no tronco, apenas as que choravam luto, mas falaram que é porque elas não queriam. Eu dormi um pouco.
Os homenageados deste Kuarup foram uma criança da aldeia, um adulto e um rei Belga que eu nunca ouvi falar na historia( vou pesquisar minha ignorância) , este rei ajudou Villas Boas no processo Parque do Xingu.
Todo instante penso: " Estou no Xingu!" e todos me agradecem toda hora e eu fico sem saber o que dizer. Eu que deveria agradecer?
Esta noite gerador não foi ligado em respeito ao silencio do Kuarup e a agua acabou novamente.
O carregador de minha câmera ( filhote de turismo, não tive permissão para fotografar) queimou em um gerador que consegui ali próximo. Mas faz parte!
Esta noite dormi abobalhada com o som da aldeia, do choro e canto. Foi marcante!
Meus amigos ratos estavam presentes também!

Hora do banho


Caminho para aldeia




Chegando com a Coca Cola da cidade..



Um dia eu toco




terça-feira, 4 de setembro de 2012

Dia 24 - SEGUNDO DIA - XINGU


Acordei com o som da família conversando e gosto de ver a entoação das palavras. Não demora escuto, PriiiscilaAuchupai ( o som da palavra que significa bom dia, boa tarde, muito bom... tudo que é positivo como entendi ).

Levantei e estavam fazendo 
café( café puro com açúcar) e do nada vi um dos homens da casa pegando todos os alimentos, água, o café e jogando fora do lado de fora da oca.. não sobrou nada e ficamos com cara de bobos sem saber porque e ele disse: " tem mulher sangrando na Oca". Quando uma índia menstrua todo alimento da casa é jogado fora e ela não pode fazer comida e comi apenas frango todo o período menstrual. Se ela comer outra coisa o cabelo dela cai e ela vai ficar feia, perde seu encanto. Se um homem comer algo feito por ela terá náuseas, dores, perdera e se machucara nas lutas e influencia na pesca também. Fiquei assustada quando jogou água quente nas paredes e depois completou "Bom que mata baratas"
Peguei minha 
bolachinha na barraca tímida e tomei um
outro café que fizemos juntos na fogueira dentro da oca. Rodamos de Oca em Oca separando artesanato e depois de oca em oca para pagar. Em cada Oca uma novidade. Nosso Guia foi Tupé. Ralei mandioca, vi churrasco de frango, vi o pessoal jogando balinhas no chão e todos pegam felizes, dizem que é para mimar os espíritos.

Na minha Oca e em outras tinha meninas reclusas. Quando a menina tem a primeira menstruação elas ficam escondidas no canto da oca aprendendo com a mãe como fazer artesanato, bons modos e tudo que uma índia deve aprender para ser adulta. Elas não cortam o cabelo e ficam ali aproximadamente dois anos. Na minha oca tinha Nicolli, um amor de menina que ficava la quietinha e adorava quando eu e Julie falávamos com ela e era nítida a curiosidade em sair dali mas valoriza e respeita sua cultura. Neste dia a vi sendo raspada e não deve ser fácil. Sempre observava as marcas em todos da raspagem mas nela foi a primeira que vi acontecendo. Eles fazem uma ferramenta com dente de peixe cachorro e raspam o corpo para que saia o sangue impuro saia. Ela era raspada e encurvava o corpo olhando para o chão sem dizer uma palavra. Deram uma pequena pausa e ela agachou , logo depois continuaram e ela deu um sorrisinho
 para mim... que força! As reclusas raspão uma vez por semana.

Vi um menino novinho
 fazendo artesanato, que graça de garoto e que habilidade!

A pesca deste dia foi melhor do que a que fui, chegaram com peixes enormes e felizes.

Fui comer peixe do lado de fora da oca e me mostravam como se faz o beiju mas eu não consegui tirar os olhos dos dois garotos sendo raspados ali do lado, sangravam muito e fortes e a mãe do lado jogando agua para limpar e dando apoio. Parecia que era a primeira vez que raspavam,mas não acredito. Me falaram que quando as crianças fazem algo errado eles raspam o menino para purifica-lo. Observando os meninos comi o peixe cru, cozinhou com o sal Mehinako
,

Me deu uma cólica horrível esta tarde e fiquei sem saber o que fazer. Tenho que contar na oca e vão jogar tudo fora novamente? Vou ter que evitar de falar com os homens da aldeia? Uma coisa eu tinha certeza, não ia ficar sentada sangrando na madeira. ( um artesanato lindo feito de pequenos troncos pintados que a mulher 
menstruada fica sentada durante este período). Fiquei confusa.

Tomei banho no escuro e na volta para oca conheci uma jovem índia linda que me mostrou a sua perna enquanto desamarrava o pano do joelho. ( elas amarram um pano logo abaixo do joelho e apertam para engrossar as pernas) A perna dela esta cicatrizando um arranhado recente e bem grande eu eu a observava enquanto me mostrava como sé amarra. Um contraste para quem não conhece a cultura. Ela me falava que ia fazer um facebook para conhecer um branco e casar com ele. ( fiquei sem saber o que pensar. Pois ela era a imagem perfeita da cultura e queria casar com um branco do facebook, sinceramente não acreditei na segunda parte). Ela dizia: " Se fosse homem eu casaria com você e com a Julie." O macacos do lado dela não parava de me mostrar a 
língua, ele eu tenho certeza que não gostou de mim.

Dentro da oca quando a flauta entrava os homens gritavam e eu queria gritar e me falaram que mulher não pode gritar, os homens gritam forte e nos mulheres 
tínhamos que fazer silencio. Fiquei calada e me falaram que tem festas que apenas as mulheres gritam.

Uma índia me chamou em um canto e me perguntou se eu estava menstruada. ( não sei como soube) e eu disse que sim e ela disse para não fazer alimentos e não comer peixe. ( como disse antes os homens não podem comer nada tocado pela mulher menstruada que faz mal a saúde, a pesca e podem se machucar na luta e as mulheres  comem frango porque se comerem peixe cai seu cabelo, ficam feias e perdem a pureza). Também me pediu para que me afastasse dos jovens. Tentei ficar mais distante em respeito a cultura. Mas me deu uma sensação de criminosa... incrível como em um mesmo pais temos tantas culturas. Dizem que sentem o cheiro da mulher 
menstruada.

As vezes me pediam pra fazer café e brincavam ( os brancos comigo). "Priscila não pode fazer comida" e não sei se sabiam mas eu nem tocava na comida. Me senti 
fazendo algo errado.

A noite andei pela aldeia e fui ao acampamento dos Kalapalos, na aldeia mesmo e os Yalapiti e Kuikuros estão acampados em Gaúcha do Norte. Fiquei curiosa porque não estão na aldeia e me explicaram que os Kalapalos são parceiro na luta e as outras duas aldeias eram rivais e de acordo com a tradição eles chegam na aldeia na noite anterior aos jogos enquanto choram no tronco. Mas durante o dia a aldeia levava Beiju
 e peixes nos acampamentos.

Toda noite ficamos na fogueira dentro da oca e soube que o lado que a fumaça vai é sempre o do ciumento e quem tem intolerância a fumaça da fogueira é ciumento. Dentro da Oca é escuro dia e noite mas a noite é incrivelmente escuro e não é 
possível ficar sem lanternas. Chegaram mais quatro brancos apenas para os dois dias de Kuarup, acamparam do lado de fora da Oca e quem montou a barraca? EUUUUU montadora oficial de barracas.

3 meses antes do Kuarup os 
indígenas não fazem sexo pois acreditam que pode atrapalhar na luta, saindo machucados por exemplo. Pode também atrapalhar na pescaria.

Hoje Julie cantou na fogueira, esta noite jogaram remédio e tinha menos ratos.


Comprando artesanato com meu novo amigo Duda






Me snti uma india...tadinha de mim










Sou insistente..este macaco não gosta de mim



Quando não fui a pescaria...olha o resultado!


Detalhe na faca Roberto Ecologia!



Estava bom!










Macaquinho me dando lingua

segunda-feira, 3 de setembro de 2012

Dia 23 - PRIMEIRO DIA NO XINGU - ALDEIA UTAWANA- MEHINAKO

Na noite anterior achei que não ia dormir devido barulho dos  ratos mas dormi bem. Senti saudade de minha família e meu auau, vontade de contar tudo que vi até agora. Aqui não pega telefone e estou incomunicável.

Acordei com todos conversando na língua deles e ficava tentando imaginar o'que estariam falando, mas logo mudei de pensamento pois queria levantar logo para ver a aldeia, muita curiosidade. Julie estava desmaiada e escutei. "Priscila!! Priscila!!Vamos para o rio banhar!" Levantei quase que correndo da Oca e fui la fora ver a Aldeia... UAUUUUUU dei de cara com as ocas em circulo como já tinha visto em varias fotos... fiquei alguns minutos calada ( acho que calada mesmo fiquei não) Pensava: " Estou no Xingu, estou no Xingu, Meu Deus!" Eram 6h e senti frio.

São 11 Ocas enormes, sendo que uma é um posto de saúde. Tomei um café puro bem docinho e fui conhecer o posto de saúde. As barracas na parte superior  sao de madeira,  para quando ocorrer  as cheias a agua nao atinge a parte alta das barraca. Por dentro, a Oca da saúde é diferente das ocas do índios , parece mais com nossas casas, mas é uma  oca.

Tomei um banho e todos que passavam falavam. "Prisciiila!!! " Dava bom dia a todos e vi de longe um macaquinho pulando sozinho, crianças correndo e todos indo se banhar no rio.

Já de volta a Oca , fui ver os peixes e mostrei alguns vídeos pataxo com o que sobrou de bateria de meu notebook. Ficaram todos pedindo para conhecer os Pataxó, se eu podia levar os Pataxó até eles,  e a pedido de Timboca de Carmésia,  disse que vou fazer esta ligação entre eles, ficarei feliz em ajudar neste intercâmbio cultural indígena.

Vi artesanatos em madeira maravilhosos, colares, pulseiras e muito mais. Fiz um tour de Oca em Oca vendo artesanato e comprei uma pulseira para meu amigo Alexandre Pataxó e ainda estou devendo para outros. Quanta arte maravilhosa, minha vontade era de comprar tudo que vi. Enquanto andava pela aldeia fui chamada para a entrega de presentes.
Antes de minha viajem, haviam me avisado para levar presentes para a comunidade e a entrega é no meio da aldeia. Vai toda comunidade para o centro e colocam todos os presentes espalhados no chão e o cacique vai distribuindo entre todos da comunidade. As crianças brincavam e corriam para pegar brinquedos. Distribuimos cadernos, anzóis, brinquedos, miçangas e outros. Logo em seguida cada um se apresentou para o cacique. ( quem sou, de onde, porque fui la e o que vou fazer)

Eu, Julie e os dois paulistas ficamos sem saber o que falar por não era esperada esta apresentação e foram bem claros que era proibido fotografar. Apenas fotos nossas. Fiquei chateada pois não tinha condição de pagar por foto o que pediram.

Andei mais um pouco e fui convidada para pescar com eles, uma aventura em dois barcos e os paulistas também foram.Vi tartarugas, jacares, piranhas e jacares pulando. Colocaram a rede e quando vi eu já estava ajudando a puxar a rede com eles. Afundei na lama e morreram de rir de mim...lembrei do mangue da Aldeia Velha. Voltei negra de terra e fui comer peixe com beiju.

As flautas começaram cedo e foi o dia todo andando de oca em oca para alegrar o espírito. É o início do Kuarup. e eu querendo entender porque os homens caminhavam  de chinelo as mulheres descalças naquela terra que queima os pés. Com muito custo me falaram que a mulher tem que ser leve nos pés. Outra duvida era porque quando entravam nas ocas e paravam para descansar as mulheres corriam para ficar de frente para a parede e não interagiam nas ocas como os flautistas. Esta resposta não tive com certeza. Falaram que elas são tímidas e não queriam que olhassem para o corpo delas, que não conheciam as pessoas.... Não sei. Tocaram ate o final do dia e começaram os cantores e uma dança coletiva dos homens no meio da aldeia.

Fiquei feliz em ver a atenção e curiosidade de todos para comigo. TODOS perguntavam: " Você é casada? Tem filhos? Mãe? Pai? irmãos? Vai pintar? "
As crianças morriam de rir  só de olharmos para elas e isto me deixava fascinada.

Fui tomar banho no rio e vi os Kalapalos ( parceiros da aldeia no Kuarup) chegando.

Ligaram o gerador e todos carregaram lanternas e baterias das máquinas fotográficas. Ficamos de papo na fogueira dentro da Oca deitados em redes.

Fui ao posto de saúde a noite e veio um bicho correndo na minha direçao  e Yatapi gritou.." fica quieta filhote de onça!" Como eu não estava vendo nada apenas aquele incrível céu estrelado da aldeia fiquei uma estátua e ele lá... mandando ficar quieta. Mas depois morreu de rir.. era um cachorro, beeeeem animado que depois virou meu amigo.

A visão do lado de fora da aldeia era o céu estrelado e focos de lanterna dos visitantes que fui andando com um amigo ver o acampamento. Estavam fazendo arroz com açúcar, falavam muito e morriam de rir na língua deles.. percebi que falavam de mim! rsrs

A oca adormeceu cedo e bem cheia e eu estou encantada e sem saber que pensar.

Ah! O apito que mamis deu para mim e Julie teve que ser retirado pois me deu alergia no peito. Não queria pois era uma lembrancinha que gostava de ver no meu pescoço.


Artesanato na minha oca
Presentes espalhados no chão para serem destribuidos pelo cacique
Presentes no centro da aldeia
Ganhei uma pulseira linda desta novo amigo de barco!


Eu vendo pela primeira vez a dança no Xingu. Esta dança aberta é feita apenas no Kuarup.












Familia de Yatapi. Olha o sirriso de Samira! Alem de ter o nome de uma amiga que amo não para de riri para mim!
Passage de um rio para outro
Olhem o peixe no ar..fiquei boba com o tanto que pulam