sexta-feira, 7 de setembro de 2012

DIA 25 - TERCEIRO DIA NO XINGU

Acordei com um "Auchupai"( não sei como se escreve) na barraca e um "Faz Café Julie" ( ela fez ontem e adoraram e eu não toco alimentos pq estou menstruanda). MInha barraca esta uma bagunça e não vejo nada sem lanterna...
Me chamaram para ir ao centro ( em Gaucha no Norte) passear e aproveitei e fui  comprar coisinhas para mim e agua. Agora de dia pude ver  a estrada para o centro e com muita sede( pois a agua acabou na aldeia) parecia que a estrada se multiplicava.
Eu fiquei indignada em como todos na aldeias estão viciados em coca cola, todo mundo que vai ao centro ( que não é perto) tem que ter 4 litros de coca cola para a nossa oca. INCRÍVEL.
Eu estava com tanta sede que foi conversando com Ontxa no carro e pensando em uma coca gelada, acho que qualquer coisa gelada mas a coca estava me torturando.
Quando chegamos no mercado pedi um litro de Fanta e na falta de copo ele deve ter assustado porque bebi no bico... acho que ele assustou sim!
Esqueci de falar que o pneu estava com problema e nos tivemos que procurar borracharia e enquanto isto almoçamos na cidade quando tive a infeliz ideia de ligar a cobrar para minha mãe de um orelhão publico e dei para ele falar... minha mãe levou um susto mas depois ficou tranquila. ( estou incomunicavel e um homem liga falando que esta comigo??? rsrsr )
De volta a aldeia cheguei na hora de esperar o sol ficar mais fraco nas redes das ocas e fiquei observando uma criança imitando os flautistas, mas era perfeito... e de tempo em tempo entravam os flautistas e ele ficava observando. Já era comum a entrada deles e eu me pegava as vezes nem percebendo que já estavam ali novamente. Incrível.
Ontxa disse para eu sair com os flautistas que vão pensar que sou um reclusa...( me chamou de branquela, pois as reclusas ficam clarinhas por não saírem no sol).
Todos foram dançar e eu andando de costas assustada com o sol se pondo atrás das ocas e uma fileira enorme dos indígenas do Xingu dançando,o som parecia que dava eco... e ao mesmo tempo eu queria ver a recepção das aldeias visitantes que iam montar acampamento do lado de fora da aldeia.
Ficavam as lideranças da aldeia de um lado e chegava povo a povo vindo do rio com suas bagagens e tudo mais para o acampamento e o cacique da aldeia vai ate o cacique da outra aldeia o levava a uma cadeira, dava peixe, Beiju e utxitxuwi( kawin pataxó..heheh ) , agachavam diante do cacique visitante e davam boas vindas.
Montavam muito rápido as redes e em minutos já estavam todos sentados nas redes e conversando. Conheci Aritana, o cacique geral do Xingu.
Eles não entram na aldeia, apenas a noite para o desfile e no dia seguinte para a luta.
Rodei os acampamentos e recebi um recado que tinham alguns rapazes me procurando e não entendi nada, conheci alguns Kuikuros pelo facebook e eles sabiam que eu estava la e foram me conhecer, muito bacana. Quando ia imaginar que ia conhecer amigos do facebook no xingu?
Depois de meu banho no rio fiquei vendo todo ritual da montagem da madeira, do choro , da musica que nunca para e por mais que eu tentasse não conseguia entender cada detalhe desta magnífica cultura.
E a noite cada aldeia entrou para buscar o fogo para seu acampamento e um rapaz da aldeia me disse que nesta hora fazem muito barulho para assustar pois no dia seguinte seria a luta entre eles.
Um grupo veio falar comigo enquanto eu assistia a aldeia visitante correndo em circulo e gritando muito. Assunto: Julie tinha que ficar afastada de Teo ( que conhecemos la ) pois esta noite era muito importante e proibida a aproximação homem e mulher. Julie foi meditar mais cedo e eu fiquei nas redes com o pessoal e saia toda hora para ver o choro do lado de fora que só acabou as 4h, quando todos foram se preparar para a luta. Os guerreiros se raspam e se arrumam em outro clima e não mais de choro,
Apenas quem esta de luto senta e o restante fica em pé ate quando aguenta e vai dormir.Sentei do lado da oca sozinha e fiquei observando o choro e canto dos cantores de cada aldeia. O choro é organizado. Quando os cantores cantam é um silencia absoluto e quando param choram todos juntos e eu fiquei observando ate tarde. Estes cantores são famosos por não desafinarem e naquele silencio acho que qualquer erro tooodos escutam..
Serviram biscoito com café e não entendi, depois soube que foi em homenagem ao rei, comida de branco. Uma coisa que não entendi é que as mulheres não ficaram muito ali no tronco, apenas as que choravam luto, mas falaram que é porque elas não queriam. Eu dormi um pouco.
Os homenageados deste Kuarup foram uma criança da aldeia, um adulto e um rei Belga que eu nunca ouvi falar na historia( vou pesquisar minha ignorância) , este rei ajudou Villas Boas no processo Parque do Xingu.
Todo instante penso: " Estou no Xingu!" e todos me agradecem toda hora e eu fico sem saber o que dizer. Eu que deveria agradecer?
Esta noite gerador não foi ligado em respeito ao silencio do Kuarup e a agua acabou novamente.
O carregador de minha câmera ( filhote de turismo, não tive permissão para fotografar) queimou em um gerador que consegui ali próximo. Mas faz parte!
Esta noite dormi abobalhada com o som da aldeia, do choro e canto. Foi marcante!
Meus amigos ratos estavam presentes também!

Hora do banho


Caminho para aldeia




Chegando com a Coca Cola da cidade..



Um dia eu toco




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