terça-feira, 4 de setembro de 2012

Dia 24 - SEGUNDO DIA - XINGU


Acordei com o som da família conversando e gosto de ver a entoação das palavras. Não demora escuto, PriiiscilaAuchupai ( o som da palavra que significa bom dia, boa tarde, muito bom... tudo que é positivo como entendi ).

Levantei e estavam fazendo 
café( café puro com açúcar) e do nada vi um dos homens da casa pegando todos os alimentos, água, o café e jogando fora do lado de fora da oca.. não sobrou nada e ficamos com cara de bobos sem saber porque e ele disse: " tem mulher sangrando na Oca". Quando uma índia menstrua todo alimento da casa é jogado fora e ela não pode fazer comida e comi apenas frango todo o período menstrual. Se ela comer outra coisa o cabelo dela cai e ela vai ficar feia, perde seu encanto. Se um homem comer algo feito por ela terá náuseas, dores, perdera e se machucara nas lutas e influencia na pesca também. Fiquei assustada quando jogou água quente nas paredes e depois completou "Bom que mata baratas"
Peguei minha 
bolachinha na barraca tímida e tomei um
outro café que fizemos juntos na fogueira dentro da oca. Rodamos de Oca em Oca separando artesanato e depois de oca em oca para pagar. Em cada Oca uma novidade. Nosso Guia foi Tupé. Ralei mandioca, vi churrasco de frango, vi o pessoal jogando balinhas no chão e todos pegam felizes, dizem que é para mimar os espíritos.

Na minha Oca e em outras tinha meninas reclusas. Quando a menina tem a primeira menstruação elas ficam escondidas no canto da oca aprendendo com a mãe como fazer artesanato, bons modos e tudo que uma índia deve aprender para ser adulta. Elas não cortam o cabelo e ficam ali aproximadamente dois anos. Na minha oca tinha Nicolli, um amor de menina que ficava la quietinha e adorava quando eu e Julie falávamos com ela e era nítida a curiosidade em sair dali mas valoriza e respeita sua cultura. Neste dia a vi sendo raspada e não deve ser fácil. Sempre observava as marcas em todos da raspagem mas nela foi a primeira que vi acontecendo. Eles fazem uma ferramenta com dente de peixe cachorro e raspam o corpo para que saia o sangue impuro saia. Ela era raspada e encurvava o corpo olhando para o chão sem dizer uma palavra. Deram uma pequena pausa e ela agachou , logo depois continuaram e ela deu um sorrisinho
 para mim... que força! As reclusas raspão uma vez por semana.

Vi um menino novinho
 fazendo artesanato, que graça de garoto e que habilidade!

A pesca deste dia foi melhor do que a que fui, chegaram com peixes enormes e felizes.

Fui comer peixe do lado de fora da oca e me mostravam como se faz o beiju mas eu não consegui tirar os olhos dos dois garotos sendo raspados ali do lado, sangravam muito e fortes e a mãe do lado jogando agua para limpar e dando apoio. Parecia que era a primeira vez que raspavam,mas não acredito. Me falaram que quando as crianças fazem algo errado eles raspam o menino para purifica-lo. Observando os meninos comi o peixe cru, cozinhou com o sal Mehinako
,

Me deu uma cólica horrível esta tarde e fiquei sem saber o que fazer. Tenho que contar na oca e vão jogar tudo fora novamente? Vou ter que evitar de falar com os homens da aldeia? Uma coisa eu tinha certeza, não ia ficar sentada sangrando na madeira. ( um artesanato lindo feito de pequenos troncos pintados que a mulher 
menstruada fica sentada durante este período). Fiquei confusa.

Tomei banho no escuro e na volta para oca conheci uma jovem índia linda que me mostrou a sua perna enquanto desamarrava o pano do joelho. ( elas amarram um pano logo abaixo do joelho e apertam para engrossar as pernas) A perna dela esta cicatrizando um arranhado recente e bem grande eu eu a observava enquanto me mostrava como sé amarra. Um contraste para quem não conhece a cultura. Ela me falava que ia fazer um facebook para conhecer um branco e casar com ele. ( fiquei sem saber o que pensar. Pois ela era a imagem perfeita da cultura e queria casar com um branco do facebook, sinceramente não acreditei na segunda parte). Ela dizia: " Se fosse homem eu casaria com você e com a Julie." O macacos do lado dela não parava de me mostrar a 
língua, ele eu tenho certeza que não gostou de mim.

Dentro da oca quando a flauta entrava os homens gritavam e eu queria gritar e me falaram que mulher não pode gritar, os homens gritam forte e nos mulheres 
tínhamos que fazer silencio. Fiquei calada e me falaram que tem festas que apenas as mulheres gritam.

Uma índia me chamou em um canto e me perguntou se eu estava menstruada. ( não sei como soube) e eu disse que sim e ela disse para não fazer alimentos e não comer peixe. ( como disse antes os homens não podem comer nada tocado pela mulher menstruada que faz mal a saúde, a pesca e podem se machucar na luta e as mulheres  comem frango porque se comerem peixe cai seu cabelo, ficam feias e perdem a pureza). Também me pediu para que me afastasse dos jovens. Tentei ficar mais distante em respeito a cultura. Mas me deu uma sensação de criminosa... incrível como em um mesmo pais temos tantas culturas. Dizem que sentem o cheiro da mulher 
menstruada.

As vezes me pediam pra fazer café e brincavam ( os brancos comigo). "Priscila não pode fazer comida" e não sei se sabiam mas eu nem tocava na comida. Me senti 
fazendo algo errado.

A noite andei pela aldeia e fui ao acampamento dos Kalapalos, na aldeia mesmo e os Yalapiti e Kuikuros estão acampados em Gaúcha do Norte. Fiquei curiosa porque não estão na aldeia e me explicaram que os Kalapalos são parceiro na luta e as outras duas aldeias eram rivais e de acordo com a tradição eles chegam na aldeia na noite anterior aos jogos enquanto choram no tronco. Mas durante o dia a aldeia levava Beiju
 e peixes nos acampamentos.

Toda noite ficamos na fogueira dentro da oca e soube que o lado que a fumaça vai é sempre o do ciumento e quem tem intolerância a fumaça da fogueira é ciumento. Dentro da Oca é escuro dia e noite mas a noite é incrivelmente escuro e não é 
possível ficar sem lanternas. Chegaram mais quatro brancos apenas para os dois dias de Kuarup, acamparam do lado de fora da Oca e quem montou a barraca? EUUUUU montadora oficial de barracas.

3 meses antes do Kuarup os 
indígenas não fazem sexo pois acreditam que pode atrapalhar na luta, saindo machucados por exemplo. Pode também atrapalhar na pescaria.

Hoje Julie cantou na fogueira, esta noite jogaram remédio e tinha menos ratos.


Comprando artesanato com meu novo amigo Duda






Me snti uma india...tadinha de mim










Sou insistente..este macaco não gosta de mim



Quando não fui a pescaria...olha o resultado!


Detalhe na faca Roberto Ecologia!



Estava bom!










Macaquinho me dando lingua

Nenhum comentário:

Postar um comentário