segunda-feira, 3 de setembro de 2012

Dia 23 - PRIMEIRO DIA NO XINGU - ALDEIA UTAWANA- MEHINAKO

Na noite anterior achei que não ia dormir devido barulho dos  ratos mas dormi bem. Senti saudade de minha família e meu auau, vontade de contar tudo que vi até agora. Aqui não pega telefone e estou incomunicável.

Acordei com todos conversando na língua deles e ficava tentando imaginar o'que estariam falando, mas logo mudei de pensamento pois queria levantar logo para ver a aldeia, muita curiosidade. Julie estava desmaiada e escutei. "Priscila!! Priscila!!Vamos para o rio banhar!" Levantei quase que correndo da Oca e fui la fora ver a Aldeia... UAUUUUUU dei de cara com as ocas em circulo como já tinha visto em varias fotos... fiquei alguns minutos calada ( acho que calada mesmo fiquei não) Pensava: " Estou no Xingu, estou no Xingu, Meu Deus!" Eram 6h e senti frio.

São 11 Ocas enormes, sendo que uma é um posto de saúde. Tomei um café puro bem docinho e fui conhecer o posto de saúde. As barracas na parte superior  sao de madeira,  para quando ocorrer  as cheias a agua nao atinge a parte alta das barraca. Por dentro, a Oca da saúde é diferente das ocas do índios , parece mais com nossas casas, mas é uma  oca.

Tomei um banho e todos que passavam falavam. "Prisciiila!!! " Dava bom dia a todos e vi de longe um macaquinho pulando sozinho, crianças correndo e todos indo se banhar no rio.

Já de volta a Oca , fui ver os peixes e mostrei alguns vídeos pataxo com o que sobrou de bateria de meu notebook. Ficaram todos pedindo para conhecer os Pataxó, se eu podia levar os Pataxó até eles,  e a pedido de Timboca de Carmésia,  disse que vou fazer esta ligação entre eles, ficarei feliz em ajudar neste intercâmbio cultural indígena.

Vi artesanatos em madeira maravilhosos, colares, pulseiras e muito mais. Fiz um tour de Oca em Oca vendo artesanato e comprei uma pulseira para meu amigo Alexandre Pataxó e ainda estou devendo para outros. Quanta arte maravilhosa, minha vontade era de comprar tudo que vi. Enquanto andava pela aldeia fui chamada para a entrega de presentes.
Antes de minha viajem, haviam me avisado para levar presentes para a comunidade e a entrega é no meio da aldeia. Vai toda comunidade para o centro e colocam todos os presentes espalhados no chão e o cacique vai distribuindo entre todos da comunidade. As crianças brincavam e corriam para pegar brinquedos. Distribuimos cadernos, anzóis, brinquedos, miçangas e outros. Logo em seguida cada um se apresentou para o cacique. ( quem sou, de onde, porque fui la e o que vou fazer)

Eu, Julie e os dois paulistas ficamos sem saber o que falar por não era esperada esta apresentação e foram bem claros que era proibido fotografar. Apenas fotos nossas. Fiquei chateada pois não tinha condição de pagar por foto o que pediram.

Andei mais um pouco e fui convidada para pescar com eles, uma aventura em dois barcos e os paulistas também foram.Vi tartarugas, jacares, piranhas e jacares pulando. Colocaram a rede e quando vi eu já estava ajudando a puxar a rede com eles. Afundei na lama e morreram de rir de mim...lembrei do mangue da Aldeia Velha. Voltei negra de terra e fui comer peixe com beiju.

As flautas começaram cedo e foi o dia todo andando de oca em oca para alegrar o espírito. É o início do Kuarup. e eu querendo entender porque os homens caminhavam  de chinelo as mulheres descalças naquela terra que queima os pés. Com muito custo me falaram que a mulher tem que ser leve nos pés. Outra duvida era porque quando entravam nas ocas e paravam para descansar as mulheres corriam para ficar de frente para a parede e não interagiam nas ocas como os flautistas. Esta resposta não tive com certeza. Falaram que elas são tímidas e não queriam que olhassem para o corpo delas, que não conheciam as pessoas.... Não sei. Tocaram ate o final do dia e começaram os cantores e uma dança coletiva dos homens no meio da aldeia.

Fiquei feliz em ver a atenção e curiosidade de todos para comigo. TODOS perguntavam: " Você é casada? Tem filhos? Mãe? Pai? irmãos? Vai pintar? "
As crianças morriam de rir  só de olharmos para elas e isto me deixava fascinada.

Fui tomar banho no rio e vi os Kalapalos ( parceiros da aldeia no Kuarup) chegando.

Ligaram o gerador e todos carregaram lanternas e baterias das máquinas fotográficas. Ficamos de papo na fogueira dentro da Oca deitados em redes.

Fui ao posto de saúde a noite e veio um bicho correndo na minha direçao  e Yatapi gritou.." fica quieta filhote de onça!" Como eu não estava vendo nada apenas aquele incrível céu estrelado da aldeia fiquei uma estátua e ele lá... mandando ficar quieta. Mas depois morreu de rir.. era um cachorro, beeeeem animado que depois virou meu amigo.

A visão do lado de fora da aldeia era o céu estrelado e focos de lanterna dos visitantes que fui andando com um amigo ver o acampamento. Estavam fazendo arroz com açúcar, falavam muito e morriam de rir na língua deles.. percebi que falavam de mim! rsrs

A oca adormeceu cedo e bem cheia e eu estou encantada e sem saber que pensar.

Ah! O apito que mamis deu para mim e Julie teve que ser retirado pois me deu alergia no peito. Não queria pois era uma lembrancinha que gostava de ver no meu pescoço.


Artesanato na minha oca
Presentes espalhados no chão para serem destribuidos pelo cacique
Presentes no centro da aldeia
Ganhei uma pulseira linda desta novo amigo de barco!


Eu vendo pela primeira vez a dança no Xingu. Esta dança aberta é feita apenas no Kuarup.












Familia de Yatapi. Olha o sirriso de Samira! Alem de ter o nome de uma amiga que amo não para de riri para mim!
Passage de um rio para outro
Olhem o peixe no ar..fiquei boba com o tanto que pulam


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