Fotos minhas cedidas por amigos:
Cacique Aldeia Apikay |
Rapaz que me recepcionou com uma camisa falando de Jesus |
Amigos do evento que foram comigo |
Garota que me pintou na entrada da aldeia com urucum |
Nosso pequeno "grande " grupo. |
Reportagem:
Em visita do secretário geral da Anistia Internacional, indígenas do Mato Grosso do Sul pedem justiça
Na quarta-feira 7 de agosto, em visita ao acampamento Apikay, no município de Dourados, e à reserva indígena de Dourados, em Mato Grosso do Sul, o secretário-geral da Anistia Internacional, Salil Shetty, expressou sua preocupação com a situação indígena no estado do Mato Grosso do Sul e do Brasil. Ele esteve reunido com liderenças indígenas das etnias Guarani Ñandeva, Guarani-kaiowá, Terena, Ofaie, Kinikinau e Kadiweu, entre outras etnias.
“É muito sofrimento e são muitas mortes. A Anistia
Internacional vem trazer sua solidariedade e seu apoio à causa indígena
no Brasil. O país não pode apostar no desenvolvimento que tenha como
preço a violação de direitos das populações indígenas e tradicionais.
Quando a justiça demora é como fosse negada”, afirmou.
No acampamento Apikay, a comitiva da Anistia
Internacional ouviu relatos dos guaranis que vivem há cerca de 10 anos
acampados às margens da BR 163, na expectativa de retomar suas terras,
onde hoje está instalada uma usina de cana de açucar. Cerca de 15
familias vivem confinadas em uma lateral da estrada, em situação
extremamente precária, espremidas entre a usina, a rodovia e uma outra
área de plantação de soja e cana. Seis integrantes do acampamento
morreram nos últimos anos e nenhuma morte foi investigada.
“Não temos como plantar, quando chove bebemos água
suja do córrego, nossas crianças vivem doentes. Eu já perdi meu marido,
dois filhos e dois netos. Quero a demarcação imediata de nossas terras e
a responsabilização dos culpados pelas mortes de nossos parentes”,
afirmou a cacique Damiana, líder do acampamento Apikay, falando na
lingua guarani. “Não temos espaço para viver e queremos estar na terra
onde estão nossos antepassados, nossas origens”, completou.
Reserva de Dourados
Na reserva de Dourados, com cerca três mil
hectares, há 14 mil indígenas vivendo confinados. Além de problemas de
falta de acesso à saúde, à educação, desnutrição das crianças, o pouco
espaço resulta em conflitos entre eles. Dados do CIMI apontam alto
número de homicídios e suicídios na região. Somente em 2012, 60
indígenas deram fim a suas vidas, devido à ausência de uma ligação
direta com suas terras. Na cosmologia dos Guaranis, a terra é a mãe
deles.
A reserva de Dourados foi criada há 96 anos, antes
mesmo de existir o município de Dourados. Hoje, é como uma periferia da
cidade, com problemas como violência e tráfico de drogas, mas sem a
presença da polícia, já que somente a Polícia Federal pode atuar em
terras indígenas. A primeira liderança indígena morta na região foi há
30 anos, e o crime continua impune. Nos últimos 10 anos, 12 lideranças
indígenas foram assassinadas no estado. Ninguém foi responsabilizado.
“Para nós, progresso é preservar a terra. Para os
brancos, não. Para nós, nós pertencemos à terra. Para eles, a terra os
pertence. Se o governo não tiver uma agenda de demarcação, nós vamos
começar a nossa, do jeito que fazemos, com nossas rezas e nossa força.
Se a terra continuar entregue à cana, à soja e ao gado, não só os indios
vão morrer, mas os brancos, no futuro, também”, Anastacio Peralta,
Guarani Kaiowá, aldeia Panambizinho.
De acordo com mais de trinta lideranças presentes
no encontro, os indígenas do Mato Grosso do Sul nunca aceitaram as oito
reservas que foram criadas pelo governo, a partir da 1917, para reunir
os indígenas. E querem retomar suas terras tradicionais, custe o que
custar. Todos foram unânimes em dizer: “se o governo não resolver a
questão, vamos resolver do nosso jeito. Para nós, não faz mais sentido
viver se não for em nossas terras. Vamos lutar até o fim pelo nosso
futuro e de nossas crianças”, afirmaram.
Para Salil Shetty, apesar de ser doloroso ver o
sofrimento que as populações indígenas têm sido submetidas, vê-los
unidos por seus direitos é uma inspiração. “Vocês estão fazendo o que é
certo, se unindo e exigindo juntos seus direitos. É inspirador conhecer
pessoas que colocam suas vidas em risco para defender seus direitos”,
concluiu. Amanhã, em audiência com autoridades do governo federal em
Brasília, ele afirmou aos indígenas que irá destacar quatro pontos: a
lentidão na demarcação de terras; a preocupação com mudanças na
legislação que podem representar retrocesso aos direitos indígenas; a
necessária apuração e responsabilização imediata dos responsáveis por
violações dos direitos dessas populações; e a exigência de consulta
prévia e consentimento das comunidades em relação à qualquer decisão que
afete suas vidas.
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